domingo, 29 de janeiro de 2012

Fazendo Justiça - Momentos de Reflexão


Colocando-me na pele de um dependente químico.


O Crack ou a cocaína é ainda o grande algoz a destruir a vida e os sonhos, que um dia foram cuidadosamente construídos na mente de um jovem e, que não tiveram tempo nem chance sequer de serem rascunhados num papel. O que muitos ainda não perceberam é o porquê da longevidade do vício, para os usuários de drogas.

O Usuário, em razão da rapidez do efeito das drogas na cabeça, está sempre em “estado de Hulk”, sempre aceso, procurando novas porções ou pensando em como adquiri-las, enquanto fuma ou cheira. Todos já conhecem o Hulk, alter ego monstruoso do cientista Robert Bruce Banner, personagem dos quadrinhos da Marvel Comics. Enquanto ele está sendo perseguido e em euforia, sua condição de super força não regride e mantém-se assim até que a perseguição cesse e ele consiga relaxar um pouco, quando volta ao estado de um ser humano normal.

Com os dependentes de drogas é a mesma coisa. Imposições abruptas como retirá-los na marra e levá-los quase que por meio da violência para centros de tratamentos, só servem para piorar sua condição de usuário, pois irá deixá-lo ainda mais agitado e amedrontado, tendo que recorrer às drogas para conter sua ansiedade.

O que leva um usuário a anos de dependência é o chamado "fator motivacional", ou seja, as drogas arrombam o compartimento de memórias negativas, relativas a tudo que o usuário sofreu, de toda forma, durante toda sua existência, até o fatídico encontro com a droga. A partir daí, este "HD" que é memória vai ficar girando e repetindo todo esse repertório, tocando sempre a mesma "melodia", induzindo o novo usuário a buscar formas de tentar esquecer aquelas lembranças.

Têm-se início à um novo ciclo: a droga lhe mostra uma das lembranças e o usuário procura e consome a droga, para esquecer a lembrança. É um disco que pode ficar pulando na mesma faixa durando anos, dependendo da quantidade e tipo de lembranças que ele tenha guardado durante sua vida. O ciclo pode chegar ao fim (se a morte não chegar primeiro), quando a "melodia" começar a ficar sem graça e perder efeito. Aí ele começará a se consumir pela droga e não mais por um desejo de esquecer alguma coisa. O sabor da droga começará a ficar mais "amargo". É quando ele começa a pensar em se tratar.

Mas, se mesmo neste "final de ciclo", alguém vier e quiser levá-lo à força para tratar-se, poderá causar um efeito reverso e levá-lo a procurar a droga outra vez, por causa deste novo "fator motivacional". É preciso fazer parar este ciclo e, para que isso seja possível, as abordagens deverão ser mais brandas, seguidas de uma boa "conversa de botequim", para fazê-lo relaxar, para entrar no assunto de tratamento e aí sim, essa resposta recíproca, há de ser mais rápida do que quando feito de outra forma.

O usuário sabe que entrou "involuntariamente" numa roubada e não precisa ser maltratado, para ser lembrado disso. A droga roubou-lhe o controle de suas ações como quem faz uma lobotomia, ou seja, sua vontade própria extinguiu-se quase que totalmente, restando muito pouco para agir. Sua mente, doravante, é a droga e o seu corpo, seu escravo fiel. Mas existem medidas que podem potencializar essa pequena parte, para que possa se rebelar contra a droga e reassumir, de forma gradativa e progressiva, o controle do seu corpo. Entretanto isso é outra conversa de botequim, a ser discutida caso a caso. Por hora, se você acha o teu problema um calvário, não queira estar na condição de um usuário.

Amadeu Epifânio
Momentos de Reflexão

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